quinta-feira, 4 de agosto de 2011

João Pessoa - Roberto Slomka

Passeio
À toa
Em João Pessoa
Torno-me
João-ninguém
Sem rumo
Sem prumo
Sem proa
Sem um bem
Que me deixe
Numa boa.

                (São Paulo, 20/jul/1994)

Poema Sangria - Roberto Slomka

Se minha poesia
É triste
É porque espelha
Toda tristeza
Que existe
Por aí
E me atinge
Bem aqui
No peito
De jeito
A machucar
Então não
Posso calar
Preciso gritar
Essa dor
Expulsa-la
De onde
For
Que se alojou
Arranca-la
Extraí-la
Sem temor
E a melhor
Maneira
O bom professor
Já dizia
Para matar
A dor de amor
É deixa-la
Sangrar
Em poesia.

                         ( São Paulo, 03/jul/1994)

Ao Amigo Poeta - Roberto Slomka

Amigo poeta
Aguardo
Outra carta
Esperta
Como aquela
     Em que venha
     Impressa
     Uma poesia
     Auspiciosa
          Preciosa
          Certeira
          E incerta
          Por paradoxal
          Que pareça
               Anda mal
               Da cabeça ?
               Não esqueça
               Meu endereço
               E apareça.

                        ( ao irmão Valery Botchkarev, 14/jul/1994 )

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Apenas Eu - Roberto Slomka

Coxas firmes
Seios fartos
Não me importo
Se for o contrário
Exorto
Teu relicário
Carnal
Entorto
O olhar
Até o canto
Para espiar
Teu corpo
Com o espanto
De agraciado
Pela dádiva
Divina

Vem menina
Para o meu lado
Toca suave
Meu ser extasiado
Prove
Um bocado
De meu mel
Sorva o que é teu
Idílico
Lúdico
Impudico:
Apenas eu !

              ( São Paulo, 14 fev 1994 )

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mote Perpétuo (sic) - Roberto Slomka



Este poema é como o tempo, não tem início nem fim, caminha sempre para frente, não importa em que momento você começar e onde vai terminar. Experimente.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Ponta Verde - Roberto Slomka

Ponta Verde
Ensolarada
verde musgo
ou esmeralda
verde mar
não ver-te
me dá ânsia
de voar, já
pra Maceió
romper o nó
que entrava
a garganta
e adentrar
já às tantas
em tuas águas
claras, rasas


O vento que
sopras
espicaça
minha pele
à mostra


Recobro o ânimo
e a ânima
recorda
aos pedaços
a história
de emoções
que emana
do sargaço
da areia
e do mormaço


Entrego então
meu devaneio
à vazante
e largo meu
corpo errante
à imensidão
de teus braços.

                          ( São Paulo, 25 fev 1994 )

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Completa Mente Poeta - Valery Botchkarev

Terminou, enfim,
 a dança dos lobos.
  Uivaram, rosnaram
    atiçados pela lua
     Disputaram feito
       animais no cio, as
        fêmeas cruas


   o que rolava na idéia
   ontem que já partiu
  Gases evaporaram
     sumariamente desprenderam
      como desatracar do
           navio.

Rogo Por Inspiração - Roberto Slomka

Ah, Deus! Como eu queria
que caisse sobre mim a poesia
com a força de cem Caetanos
necessariamente baianos
para trazerem da areia
rastros da praia que habitariam


E com que suavidade
eu teria a capacidade
de fazer o verso brotar
sinto gozo ao pensar...


Mas meu caminho pelas letras
como quase todos poetas
- se posso me chamar assim -
é tortuoso, íngreme, sem fim


Enquanto escrevo, ou melhor, digito
tudo o que quero ver dito
transforma-se como mágica
de forma prática
em palavras de sentido
que espelham como podem
corações que explodem
como se isso fosse possível


Parece até incrível
amo a poesia
e dela tento
noite e dia
extrair o meu sustento.
Não o monetário, financeiro
pois sendo eu brasileiro
não poderia jamais supor
viver da arte, do amor,
de tudo que for verdadeiro.
Mas o sustento de minh´alma
para torná-la serena, calma
e me dar forças para o dia
que começa à revelia
do meu louco querer.


Ah, eu queria saber
Deus que me conforta
se há passagem, ou porta
que me leve direto à inspiração
e que não passe pelo coração
que deturpa, confunde, mente
não sabe nem o que sente
e o que inventa
ou tenta.


E assim, ao som de violinos
tento extrair versos finos
que tenham algum sentido
mas como, se nem tenho sido
sincero comigo?


Venha, meu amigo
me ajude a extrair
o verso: parir
porque o poema é filho
trem sem trilho
seta sem direção
luz e escuridão


Enquanto isso, o vinho
que bebo agora sozinho
dança em minha mente
e nem quem sente
o seu efeito
jogado em seu leito
pode viajar assim
solto, fluido, afim
e compreender como seria
essa bruta poesia
que surge agora em mim


                       ( São Paulo, 3 jan 1994 )